sexta-feira, 18 de abril de 2008

Bar!

Hoje é sexta-feira, aniversário da minha prima querida, dia de tomar cerveja. Então resolvi publicar aqui um continho podre mas de coração que eu fiz, sobre BAR!

*Qualquer semelhança é mera conhecidência!


Aquele Bar
Sentei no banco da praça e fiquei ali parada ouvindo o som dos pássaros, era como se eu pudesse fazer o tempo parar e só escutar a canção da natureza cantada por aves que eu costumava matar a pedradas na minha infância nas ruas de terra vermelha lá pras bandas da terra do Getúlio.
Como pôde acabar dessa maneira, um lugar tão feliz que me aconchegava nos dias de dor e nos dias de amor, é complicado achar um outro igual a esse, normalmente eles são arrumados e exigem certa sofisticação que eu nunca consegui ter, não por não saber o que é isso ou por vir de berço humilde, mas, por não querer isso pra mim, por ter feito a escolha de ser assim menos ligada a essas tendências da moda e de etiqueta, pode parecer bobagem, mas a sociedade muitas vezes exige que mulheres tenham uma preocupação excessiva com essas questões, mas eu não era e continuo não sendo.
Naquele dia eu sofria a dor de perder um amigo querido, amigo assim como eu, sem glamour, mas com uma finesse que atiçava a curiosidade de muita gente elegante que preferia o irmão rico do meu pobre amigo. Quantas histórias desmoronaram junto com aquele prédio, quantas discussões foram enterradas sob os escombros mofados.Eu sentia a perda de uma segunda casa e acho que é por isso que eu não conseguia escutar o barulho das pessoas que atravessavam a praça com suas pastas e mochilas indo e vindo com pressa que não escutavam nada ao seu redor e muitas vezes nem viam os pássaros a sua frente saindo em revoada para não serem pisoteados por aquelas almas apressadas e desatentas que esperavam apenas cumprir seus horários e chegar em casa para tomar um banho e ver a novela. Mas eu, continuava lá encantada pelo som da praça, o som dos pássaros que era acompanhado com o vento que batia nas árvores e que não deixavam a correria alheia atrapalhar minha dor de perder o meu lugar, o meu bar, a minha casa.
Lembro muito bem de paixões que eu vi nascer naquele bar, amigos que eu fiz, amores passageiros que eu revi e histórias fantásticas que muitas vezes eu pensei em viver, enquanto sentava sozinha na mesa mais ao fundo escutando alguma música que embalava meu pensamento pra longe. Ah como era bom, eu ia a Paris andava pelas ruas geladas da cidade luz com muita roupa e sentava em um café e ficava lá bebendo um bom capuccino e baforando a fumaça amarga de um cigarro barato. Até que um garçom me perguntava o que eu queria beber e eu então percebia que ainda estava no bar, pedia minha cerveja, como uma boa cidadã brasileira, e esperava o tempo passar ou algum amigo pedir pra sentar ali na mesa, enquanto o som embalava as noites que terminavam com a mesa cheia de gente, copos, cinzeiros e muita poesia que me faziam voltar no dia seguinte para continuar um papo que ficou pela metade ou conhecer alguém que veio de um lugar totalmente diferente ou ali do bar da outra esquina procurando novas caras, era assim, quase sempre assim, porque nunca uma noite era igual a outra, sempre haviam novas caras, novos assuntos e novas cervejas porque afinal cada noite era um nova noite uma pagina em branco que não poderia ser escrita com as mesmas história da pagina anterior. Essa magia que ele tinha, a facilidade de juntar pessoas diferentes em harmonia que não permitia que houvesse brigas, apenas ríspidas trocas de teorias e algumas vezes de controvérsias, mas nunca em todos esses anos houveram insultos e muito menos agressões, aquele era um lugar de paz, onde todos entravam em busca de crescimento ou as vezes de casamento. E foram tantos os casamentos que passaram por aquele lugar, uns começaram lá dentro, outros acabaram lá fora, mas foram enterrados em alguma mesa em um grande e gelado copo do bar.
Naquele dia era apenas uma montoeira de tijolos e cimentos que me levavam até aquela praça. Acendi um cigarro e fiquei um tempo olhando os escombros do bar de longe, nem os pássaros eu ouvia mais apenas aquela boa e velha nostalgia que me acompanhava naquela tarde de outono. Uma folha caiu sobre meus ombros, foi como se algo tivesse caído dentro de mim, caído num escuro e profundo vazio, a falta de um pedaço de mim que me fazia rir e chorar, agora eram apenas as lembranças daquele lugar que me acompanhavam na tarde fria de um outono cinza que parecia muito com inverno, inverno que me levava a Nova Iorque, Londres, Coimbra, lugares que eu pensava em visitar em várias noites de solidão na mesa ao fundo do bar da rua da praça.
Lembro-me agora da noite em que conheci Regina, uma moça loira de olhos azuis que ofuscavam a sua beleza, e havia muita beleza, só podia ver os olhos daquela moça quando ela entrou pela porta do bar cantarolando em voz alta para quem quisesse ouvir “Eu bebo sim e vou vivendo, tem gente que não bebe e está morrendo”.
Ela sentou no banco ao lado do meu e pediu fogo, fumava uma cigarrilha que cheirava a cereja e bebia um rum barato que me dava até náuseas de pensar em bebê-lo.
Regina era assim como eu, uma solitária moça de quase trinta anos que tinha desistido do amor e vivia transpirando poesia sem destinatário, mas que tinha uma alma linda e muita sabedoria. Trabalhava em uma repartição pública, mas não odiava o que fazia, não sei como ela não se sentia presa naquela sala lotada de papeis e ácaros, em um prédio cinza e cheio de vazamentos que o governo proporcionava aos seus guerreiros funcionários públicos.
Passei a noite conversando com ela, me parecia uma pessoa feliz, talvez eu tenha pensado que era triste e solitária, que desistiu do amor por não ter ninguém para amá-la, mas não era assim, ela era uma moça alta, loira de olhos azuis, com um belo corpo escondido em um vestido longo e um casaco pesado, mas o que mais chamava a atenção nela não era sua elegância ao se vestir muito menos a figura física de uma bela mulher, mas sim o que ela carregava no fundo de seus olhos azuis, tinha uma ternura no olhar que aconchegava quem estava na mira daqueles olhos, uma sensibilidade que poucas pessoas tinham, parecia que ela conseguia ler as expressões do meu corpo ao falar com ela e simplesmente entendia tudo o que eu deixava subentendido, eu sempre gostei das entrelinhas, e ela entendia isso sem que eu precisasse dizer por inteiro o que passava na minha cabeça, eu me perguntava por que uma pessoa assim optou por ser só, já que enquanto conversávamos sobre artes e política social os homens que rodeavam a nossa mesa, bebendo algum destilado forte demais para uns, que tinham que misturar com gelo ou fraco para aqueles que tomavam tudo num gole só sem água, gelo ou refrigerante para amenizar o amargo gosto que queimava a garganta e esquentava o coração frio e também solitário, daqueles homens que de longe não tiravam os olhos de Regina. Não era por falta de opção que ela estava naquela situação que a levava a ser considerada por suas irmãs a tiazona da família, o mistério que rondava aquela mulher era um imenso conglomerado de paixão que submergia numa vontade de liberdade que não a permitia ser diferente do que era e ela era feliz, simplesmente uma pessoa feliz, por conseguir ser ela mesma em toda solidão que ao contrário do que muitas pessoas acham é maravilhoso sentir-se completo na solidão é estar bem consigo mesmo. Mas nem todas as pessoas que passaram por aquelas mesas estavam felizes ou eram tão lindas por dentro e por fora como Regina, o mofo daquelas paredes tinha uma boa porção de sofrimento e dor de amores mal acabados, perdas irreparáveis e muita mágoa guardada que muitas pessoas entravam ali com a intenção de afogar seus fantasmas em copos de bebidas e em porções de comidas gordurosas, eu mesma já tinha entrado no bar para afogar uma briga de família, pois por mais intimista e solitária que eu possa parecer eu tenho família e como todo clã o meu era carregado de amarguras e sentimentos, mas na maioria das vezes eu afogava minhas frustrações naqueles copos suados e cinzeiros lotados, depois ia para casa e ria, ria muito do papel de moça frustrada que eu me colocava.
Mas não só de tristeza e felicidade vive uma sociedade e posso dizer que em um bar você pode retratar a sociedade em que vivemos, porque o bar é uma entidade social que junta muitas pessoas e assim retrata diversas realidades, por isso aquele bar era incrível, pois não se limitava a apenas uma parcela da sociedade, o simples engloba um todo que o sofisticado limita. Começava a anoitecer e eu continuava na praça, as pessoas já não passavam por ali com tanta freqüência e os pássaros já haviam parado de cantar, mas eu continuava ali sem saber para onde ir, já não tinha um destino certo. Levantei e andei em círculos pela praça, a noite já caia e as estrelas me acompanhavam no frio do outono, que mais parecia inverno, o frio me levava trocar a cerveja gelada por um vinho que me fazia companhia nos dias e noites para esquentar.
Sai da praça fui até uma venda que ainda estava aberta, comprei uma garrafa de vinho e fiquei por um tempo perdida sem saber para onde ir, dei meia-volta e segui em direção a praça, sentei no mesmo banco que tinha passado o fim de tarde, abri a garrafa de vinho vagabundo, acendi um cigarro, fumei demais, bebi demais e sorri demais naquela noite, tinham me tirado meu bar mas eu tinha descoberto a paz que é trocar minha solidão pela companhia das estrelas.

4 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

anaaa!!
que coisa mais perfeitaaaa, "a ana faz agt pensar" lembra?!
cheguei me emocioana lendo, saudade de tudoo isso e o pior que ela só aumenta!
eu quiria que o tempo voltasse, pra nós faze tudoo igual..
SAUDADEES

confesso que me achei um poquinho ;P
hauahuaahua
te amooo

Ju disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ju disse...

drummond drummond..

=)